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quinta-feira, 15 de junho de 2023

Contributo ignorado

 O nível de ingratidão do poder de gestão política pela contribuição que o AL deu à economia regional e nacional é deveras assustador.

Ao serem aprovadas as medidas para o sector da habitação que colidem com a actividade AL, que representa já mais de 40% do alojamento turístico,  assistir-se-à ao desmoronar do sonho de muitos que acreditaram na nobreza da razão para a criação desta modalidade de alojamento.



Especialmente aqueles que reconstruíram casas sem condições de habitação, que deram vida a ruas e bairros, que animaram a economia local e esbateram assimetrias sociais, merecem ser excluídos das medidas preconizadas. Merecem até um público reconhecimento.

É verdade que as restrições previstas não são, pelo menos por enquanto, aplicadas nos territórios de baixa densidade. Mas, onde antes existiam apenas a antiga (e tradicional) pensão e "Chambres/Rooms/Zimmer", estão hoje implantados hotéis, alguns de cadeias internacionais.

Em consequência da aprovação da lei, muitos titulares AL fecharão portas ou adoptarão outras soluções.

(Não adoptei o novo AO porque entendo que a etimologia da palavra é a raíz que sustenta a nossa cultura.)

Santa Lucia



segunda-feira, 27 de março de 2023

O fascínio da Hotelaria e a Psicologia na Empresa

Para discorrer sobre a actual falta de recursos humanos em vários sectores de actividade, nomeadamente hotelaria, é necessário recuar no tempo.

Esta crise não trava, no entanto, os ânimos de empreendedores que continuam a promover o lançamento de novos empreendimentos, contando, para a sua operacionalização com o concurso de mão-de-obra “importada” que emigra de seus países pobres ou inseguros.

Até meados da década de setenta, a agricultura gerava uma importante contribuição no sector primário.

Realizada à custa do esforço braçal dos membros de numerosas famílias com o apoio de rudimentares alfaias, a pequena agricultura dificilmente satisfazia as necessidades básicas do núcleo familiar.

A tendente e progressiva democratização do turismo, devida em grande parte, à acessibilidade a meios de transporte, provocou na década de sessenta e seguinte importantes movimentos migratórios, em especial nascidos no interior do país.

Zonas balneares onde se implantaram hotéis, pensões, restaurantes, foram o principal destino de quem procurava uma vida melhor, um trabalho mais limpo, mais leve, comer a tempo e horas, e ter um ordenado.

Os empregados eram pagos segundo uma relação qualificação-habilitações-posto hierárquico-receita do hotel.

Este sistema motivava-os para um enriquecimento pessoal e profissional, no sentido de garantirem uma contínua excelência do serviço que prestavam, porque por esse meio eram recompensados.

Não era fácil conjugar a vida pessoal e familiar porque “o hotel era a sua alma”, mas com inteligência e bom sendo tudo se conseguia.

Quase todos os hotéis, especialmente os de superior categoria e renome dispunham de enormes quantidades de candidaturas e inscrições, permitindo-lhes seleccionar os perfis que melhor se encaixavam nos lugares e tarefas disponíveis.





Hoje vive-se uma carência de recursos humanos, mas é raro anunciar motivações para despertar o interesse dos jovens.

As condições salariais não são hoje a única oferta que o empregador pode fazer; tem que oferecer comunicação, oportunidades, esperança, felicidade, motivação.

O departamento RH tem que ser muito mais do que um guichet de atendimento e o local onde se processam os salários, admissões e demissões. Tem que ser um inovador centro de formação, valorização e comunicação de recursos humanos.

Cadeias hoteleiras organizam actividades que motivam os colaboradores. Aos hotéis de reduzida dimensão resta organizarem-se no sentido de, periodicamente, recorrerem a psicólogos, técnicos de comunicação, especialistas em inteligência emocional, relações humanas e na felicidade profissional.



segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Adaptação de Destinos à Democratização do Turismo

 O Decreto 39/2008 foi uma resposta antecipada do sector do Turismo à crise financeira mundial que viria a acontecer meses depois da sua promulgação.

Além do mais, a criação da figura AL foi um ensaio para a democratização da procura turística, até então centrada no litoral e nos grandes centros urbanos, e a sua desmultiplicação em vários produtos.

Foi também uma oportunidade para reabilitar património e responder à ameaça de desemprego, porque despertou o espírito empreendedor à medida de cada investidor na área de alojamento, similares e de produção autóctone modernizada.

A nova lei veio chamar à formalidade a “pensão” para os “caixeiros viajantes”,   “Rooms, Chambres, Zimmers” em casas particulares de regiões do interior, que rapidamente se transformaram em AL dando o pontapé de saída à implantação de numerosos estabelecimentos de todas as modalidades em todo o território nacional.


A instabilidade política no estrangeiro, a incerteza do comportamento das economias, o inconveniente de perdas de bagagens, atrasos ou cancelamentos de voos, diminuíram em muitos o hábito de viajar para longínquos destinos, em detrimento do conceito Staycation ou férias em países periféricos.


Consequentemente, muitas aldeias e vilas de diversificada dimensão foram a escolha de uma imensidão de turistas movidos por distintas motivações. Esta evidência fez supor um “rebentar pelas costuras” das insuficientes estruturas para tão grande e repentino incremento da “turisticidade”.

Mas também dá para perceber que o impacto sobre o ambiente e essas estruturas seria reduzido em 50% com maior sensibilidade ambiental, ética social, cidadania e urbanidade, no sentido de pugnar por um turista responsável.

As comunidades inter-municipais deveriam instituir e colocar rotativamente ao dispor das autarquias uma Academia de Ética e Cidadania para um Turismo Melhor. As populações, mas particularmente os titulares e colaboradores de estabelecimentos Horeca (Hotelaria, Restauração, Cafetaria), teriam oportunidade de compreender o fenómeno turístico e a sua sustentabilidade através da saúde ambiental, da Ética dos Valores Culturais e Economia Local. A frequência de estes seminários e colóquios, com certificação, seriam condição sine qua non para a renovação ou iniciação de concessões de estabelecimentos públicos e autárquicos.

A bem do turismo,

A bem do Ambiente.

sexta-feira, 15 de julho de 2022

Paraíso após as tormentas

As experiências do destino como compensação

Um destino perfeito é o que o turista espera encontrar após tantas tormentas, peripécias e constrangimentos deparados no período ante e post viagem.

Nada será como dantes”, alguém afirmava nos primeiros meses da pandemia Covid.

A retoma do turismo acontecerá em 2022 com toda a população vacinada na maioria dos países, e reafirmar-se-à em 2023”

Em 2023 será ultrapassado o ano record 2019 em número de turistas”.

Todos eles tinham razão. O que não era expectável era o desaparecimento de tantos profissionais do sector do Turismo (Viagens, Turismo, Restauração). O êxtase da retoma foi rapidamente substituído pela desânimo da oferta que se deparou com a falta de recursos humanos.

Os desistentes do sector tiveram a confirmação de que o Turismo é uma área sensível a mudanças, a alterações políticas, a pandemias, ao comportamento dos mercados, aos conflitos. É uma actividade volátil. Os mais dotados de capacidade e habilitados para procurar modos de vida mais sólidos, com mais esperança encontraram alternativas cá ou noutros países.

Voos cancelados, horas, senão dias, à espera de voos de substituição, bagagens perdidas, é desesperante para quem sai para relaxar, para retomar o hábito de conhecer mundo e hábitos de outras paragens.

Aeroportos europeus não têm capacidade de recepção de tantos passageiros e bagagens.

Heathrow, o maior aeroporto de Londres, limitou, para 100.000 o número de passageiros diários, desde 12 de Julho até 11 de Setembro.

Quem passou por tantas tormentas para chegar, não pode encontrar a localidade que escolheu em obras, com acessos limitados e com sinalização confusa, barulhos, poluição, população descontente.

O cliente tem que sentir que destino lhe proporciona emoções e que está, finalmente, no oásis com que sonhou durante um ano inteiro.

Deve sentir-se compensado dizendo:



Finalmente, era mesmo isto que eu esperava.

segunda-feira, 13 de junho de 2022

Taxas e Taxinhas em Prosa Poética

Ennui é um substantivo francês que significa aborrecimento. Este deu origem a outro, mas do género feminino: Nuisance. E do casamento dos dois nasceu o termo Indemnité de Nuisance que Camões traduziria por Indemnização por constrangimentos inerentes ao bem-estar das pessoas; indemnização pela chatice causada, a tal NUISANCE.

Comparei 2 territórios em termos de bem-estar. O Reino Lavenir tem como lema: “Seja feliz e faça alguém feliz”!

O regente de Lechantier tinha como lema “Seja bem vindo quem vier por bem”. E prometia ao Povo “Vamos criar riqueza com as receitas feitas por quem nos visita. Preparemo-nos”.

Lavenir isentava de taxas os investimentos em equipamentos sociais, sem fins lucrativos (creches, lares, centros de dia, serviços comunitários, equipamentos de saúde e bem-estar), mas cobrava as devidas taxas aos investimentos em infra-estruturas para o desenvolvimento económico. Após a sua concretização é que os investidores beneficiavam de vantagens fiscais se cumprissem uma série de regras.

O reino de Lechantier isentava de taxas quem manifestasse intenção de investir no desenvolvimento económico e social do território. O problema é que por vezes as coisas davam para o torto, os investimentos ficavam a meio, transformados em monos, havia também aqueles que beneficiavam das isenções, investiam e vendiam a outros.



Recebido com entusiasmo e deferência, o governante do longínquo Lavenir visitou Lechantier, cujo dinamismo o impressionou intensamente.

O encontro formal tinha como finalidade a celebração de acordos bilaterais para a adopção de práticas que fizessem pessoas felizes.

- Lechantier não deixa ninguém indiferente. A Comunidade deve estar muito feliz com o valor das múltiplas taxas que recebe.

- Não, Majestade, aqui em Lechantier é tudo centralizado. As taxas cobradas por nós são aplicadas no que for decidido pelo Concílio.

- Estamos a aprender. No meu território aplica-se a Indemnité de Nuisance em múltiplas situações. As pessoas andam felizes porque essas taxas são aplicadas na supressão de carências sociais, no bem-comum. Há uma comissão oficial que certifica o recebimento das taxas para que uma obra ou qualquer actividade extraordinária seja autorizada.

- Dê alguns exemplos de aplicação das indemnizações.

- Toda a espécie de incómodos que causem mal-estar:

- Trabalhos que dificultem a locomoção e acesso; ruídos acima dos 80 decibéis, poeiras provocadas por obras ou industrias. Olhe, tem o exemplo de a colocação de paineis solares ou fotovoltaicos não se justificar porque a propagação de cinzas da indústria, poeiras das obras os torna deficientes, não recolhendo os raios solares com toda a sua intensidade.

- A redução de actividade de estabelecimentos pela diminuição de visitantes porque monumentos e outros locais de visita estão tapados, entaipados ou inacessíveis.

- Maus cheiros e poluição inimiga da saúde pública. Dou-lhe também o exemplo do território Terrebasque que implantou uma taxa por causa os ruídos provocados pelos roletes das malas dos turistas.


    









Locais de relax

segunda-feira, 9 de maio de 2022

Estratégia 20-31 europeia e a autenticidade dos territórios

 Neste dia 9 de Maio, dia da Europa, vamos conversar em monólogo sobre a Estratégia para os Direitos das Pessoas com Deficiência 2021-2030 da União Europeia, que preconiza uma Europa sem barreiras para que todos possam usufruir dos seus direitos e circular livremente sem barreiras arquitectónicas, sociais, politicas, turísticas.

Esta carta estratégica pede aos Estados-Membros para que contribuam para a adopção desta Estratégia, eliminando várias barreiras a todos os tipos de deficiência (motora, auditiva, visual, psíquica, etc).
Presumo, portanto, que esta Estratégia não é exclusiva ao turista, mas a todos os cidadãos.
Por outro lado, uma intervenção que altere profundamente a estrutura de uma vila típica, compromete a sua identidade pela eliminação de características que a tornam “unique”. Certamente que a Estratégia protege casos de vilas que, por elas mesmas, identificam um lugar, uma tradição e imortalizam  uma cultura. 
Se a Estratégia fosse pensada apenas no Turismo Acessível, haveria vilas e aldeias em que apenas um ou 2 estabelecimentos e parques de campismo beneficiariam do investimento público. Na realidade, há estabelecimentos de hospedagem com 2 ou 3 andares, sem ascensor e sem quartos adaptados a portadores de deficiência, restaurantes e cafés que para se aceder, tem que se subir degraus, sem possibilidade de instalar rampas, sem casa de banho adaptada e, mesmo, serviços públicos de acesso dificil.
Vamos celebrar a Europa, vamos preservar a identidade.

segunda-feira, 4 de abril de 2022

O deficit de Recursos Humanos


 


Os Orgãos de Comunicação Social transmitem a dificuldade de algumas empresas em cumprirem prazos e prestarem os serviços contratados dada a dificuldade de Recursos Humanos.

No período pré-Covid 19 os hoteleiros e similares queixavam-se de falta de “mão-de-obra” qualificada. Hoje queixam-se de que não encontram pessoas para trabalhar, com ou sem experiência.

A prática de horários partidos, a falta do reconhecimento da importância dos colaboradores para o sucesso das organizações, os baixos salários, a ausência de incentivos, mas, sobretudo, a maneira como alguns empregadores viam os seus colaboradores e alguns clientes os seus “servidores”, são as principais desmotivações pela carreira na hotelaria e similares. A pouca ou nenhuma diferença salarial entre os profissionais com muito tempo de casa e os recém-admitidos é uma das razões para a decadência e da despersonalização inexorável do nível de serviço.



Muitos profissionais na reforma ou pré-reforma , dignos representantes de uma época, abandonaram os meios rurais nos anos sessenta/setenta, porque as tarefas assemelhavam-se a trabalhos forçados, sem rendimento digno. Hoje o sector agro-alimentar é convidativo para jovens empreendedores que sabem adequar os seus projectos aos apoios disponiveis para produção, equipamento e escoamento. A pandemia foi a justificação para preferência por zonas rurais, em detrimento das cidades.

Nos tempos modernos, os recursos humanos capacitados e habilitados querem escolher onde querem trabalhar, o horário que lhes é conveniente; para eles, o conceito de liberdade de escolha é muito importante.

Por isso, é urgente que o Turismo Portugal promova nos meios de comunicação programas formativos nas diversas áreas do Turismo, de onde se destaquem oportunidades de carreira, e inteligência emocional, dentro do conceito “felicidade profissional”.

Há uns anos apercebi-me que os jantares de um hotel na Galiza eram servidos por pessoas da região que tinham as suas pequenas quintas, e que ao fim do dia mudavam de cenário para outra actividade, complementando assim os seus rendimentos.

A oferta de horários de tempo parcial, sem interrupção, poderia ser uma maneira de mitigar a falta de interessados.

Um restaurante que ostenta à porta “precisa-se de empregado(a)” em vez da carta ou menu, está a alterar o conceito e a afugentar os clientes.