Coisas que só o coração compreende ou crónica do maldizer
Catarina era uma catraia
filha de gente normal e humilde que ganhava o sustento com o que os rios davam.
Lá ia descalça para a escola, com a sua malinha de cartão,
subindo e descendo a ladeira alegremente.
Mal regressava da escola, Catarina ia para
junto da água. Cada dia que passava achava que a sua imagem que a água reflectia
era cada vez mais bela. Aí construía os
seus sonhos: ter namorados lindos, ser rica.
O seu primeiro namorado foi um miúdo da mesma escola, que
gostava de pregar partidas, era traquinas e ficou conhecido como o Zé Matreiro.
Foi ele que uns anitos mais tarde lhe abriu o caminho para a vida. E ela gostou.
Pouco estudou, mas aprendeu a insinuar-se. Foi a cobiça de
muitos pretendentes proeminentes. Muitos a usaram como se fosse uma rameira: O
Luis, o Herculano, o Sebastião, o Chagas o Alexandre, o Fernando, o Passos, o Vasco,
o Godinho, e tantos outros que a colocaram nas bocas do mundo.
No meio de tanta volúpia e êxito na socialite, regressou mentalmente
aos tempos de menina e colocou ao peito, bem junto ao coraçao o retrato do seu
grande amor: O Zé Matreiro. E os que lhe deram a mão, que a elevaram
socialmente não gostaram, porque não compreenderam que o coração tem razões que
a razão desconhece.
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