Uma sensação
de um ligeiro vazio não só orgânico mas também emotivo fez-me parar naquele
café, cujas três colunas visíveis do exterior
que sustentavam um alpendre me despertaram a atenção.
Além da
vontade de saciar o apetite, queria ouvir coisas que me emocionassem, temas
novos para mim.
“Está cá um
frio…” foi o cumprimento que o funcionário me fez à chegada.
(Discutir a
chuva, o sol, o bom tempo, nada tem de genial).
- É tempo dele… Olhe, uma sandezinha arranja-se?
- Sim….
A minha
mente viu uma semelhança do café que inspirou Joe Dassin para cantar a Praça
Stanislav em Nancy, que deve o seu nome ao ex-rei da Polónia Estanislau nomeado
Duque da Lorena por Luis XV.
Esse era o ponto de encontro de políticos e
“rendez-vous” de namorados. Neste, onde estou agora, reúnem-se grupos heterogéneos que falam de trivialidades.
(Imagem retirada de Google)
Na mesa do
centro comenta-se:
Já viste o
poder da internet? Bastou a publicação de 2 ou 3 vídeos e algumas imagens das cheias que 2
chavalos publicaram, para que 50% das reservas nos hotéis em Veneza fossem canceladas. Já viste o prejuízo? . Isto tem
cá um poder! … e é um perigo… sabe-se tudo uns dos outros.
Já ouvi
falar que as coisas andam sozinhas, pensam e falam, que qualquer dia o homem é
meio-humano e meio robot, que já se come comida feita com impressora 3D e que
uma das profissões de futuro será o de psicólogo de robots ou fiel de armazém
de reciclagem robótica.
…..
Na mesa
junto à coluna do centro ouvia-se:
Já não serão as políticas nacionais a
determinar o desenvolvimento das regiões, mas sim grandes empresas anónimas
(Google, Apple, Facebook, Amazon, Alibaba, Visa, AT&T e outros que
surgirão, chamarão a si as atenções e os interesses); estas concorrerão entre
elas na tentativa de concentração de capitais e de poder ao lado do poder
ideológico político na disputa comum pelo domínio das grandes massas.
….
Da mesa
junto à coluna da direita:
- Sabes como
é que apareceu a doença das vacas loucas? Quando elas pastavam livremente, e
comiam feno, ruminavam. Agora, alimentadas com rações porque interessa um
crescimento rápido para renderem dinheiro o mais cedo possível, elas não
ruminam. Li que havia vacarias com musica para aliviar o stress das vacas..
- E sabes
que a solução para movimentar dinheiro e desenvolver a economia local é pelo
consumo. Antigamente não havia fiscalização. O Estado controlava por meio de
pagamentos contributivos mínimos.
Com a
abolição dos mínimos, quadruplicou o numero de funcionários públicos; cada
consumidor trabalha gratuitamente para o estado, e as acções inspectivas
continuam.
Em 1969
havia 200.000 funcionários públicos. Em 2018, sem que o território tivesse
aumentado, nem a população tivesse também sofrido grandes alterações, e com muito mais tecnologia, são
669000, sendo que, destes, 516000 estão na Administração Central. Ora, criando
rendimento, cria-se consumo.
Na mesa do
canto direito desenham-se soluções para o desenvolvimento económico de uma
pequena terra no interior do país:
- Olha que o
que está em alta é o Turismo. E esta
pequena vila ficava a ganhar se tivesse um hotel; trazia muitos forasteiros.
- Pois, mas
aqui ao lado já há muita concorrência e o turista é andarilho…
- Cá para
mim é a indústria. Não é afectada por convulsões politicas externas, por greves
de pilotos, por greves de pessoal de carga…
- O que eu
noto é que já há muita indústria e poucos recursos humanos qualificados e
disponíveis para trabalhar. Uma universidade de Ensino Tecnico e Tecnologico, com residência
estudantil garantia o desenvolvimento de produtos locais, comercio e de
serviços, atraia os seus familiares e, depois de formados, resolviam a questão
da falta de mão-de-obra.
Lá ao
cantinho , um rapaz e uma rapariga, mexendo avidamente no telemóvel, mascando
umas pastilhas, comentam:
“Meu, o Insta
é fenomenal. Viste a imagem que te mandei? Este tipo é bué bacano”. Pespegam um
solaçoso beijo e voltam ao mundo virtual.
E eu, ao
balcão:
- Diga-me, o
senhor esteve na Suiça ou em França?
- Em França,
no Leste, em Nancy. De lá trouxe a vontade de ter um Café em Portugal.
Quando partilhou comigo o seu blogue, fiquei encantada com a fluidez das suas crônicas, textos bem delineados e que nos levam a envolvermo-nos e a pensar. Apreciei e aprecio.
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