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sábado, 5 de abril de 2014

O 25 de Abril e La Bombita

Adolfoin Publituris
Regressado do serviço militar obrigatório de 2 anos, retomei, em Janeiro de 1976 as minhas funções de Chefe de Recepção ou, como hoje se diz Front Office Manager, no Hotel Londres do Estoril, o hotel onde mais anos trabalhei, desde os meus 17 anos de idade, depois de ter passado pelos dois primeiros que já não existem: Estoril-Sol e Arcadas.
Posso dizer que fui um dos beneficiados: não fui parar às ex-colónias portuguesas da Guiné, Angola ou Moçambique; fiquei colocado onde tinha pedido - Tavira; trabalhei simultâneamente num aldeamento turístico no Verão de 1974 como recepcionista e como chefe de recepção em 1975, depois de vencida a oposição da então comissão de trabalhadores na minha readmissão, argumentando que eu ia tirar o lugar a um desempregado. Estas e outras histórias fazem parte do livro historiasd'hotel.
O vazio na ocupação hoteleira que a Revolução originou foi sendo progressivamente preenchido com o segmento Turismo Social, de camadas mais jovens, que vinham absorver e vivenciar a experiência revolucionária portuguesa. Estes turistas eram oriundos dos países escandinavos, da então URSS e da Federação Jugoslava. Mais tarde outra faixa etária que hoje se chama Turismo Sénior veio a eleger aquele hotel para permanecer nas visitas "Costa de Lisboa". O mercado experimental foi o espanhol, ao qual se seguiu o francês e o inglês.
Sendo eu uma dos primeiros rostos do hotel, clientes, especialmente do sexo feminino daquela faixa etária me questionavam à chegada: "Mira, tu éres hermano de nuestro Presidente? "Non, non soy", respondia eu. "Pero tu éres muy parecido. No te vás à España si non te ponen una bombita en el coche". Estas simpáticas senhoras referiam-se ao Presidente do Governo de Espanha Adolfo Suarez. Hoje, outras pessoas, que não terceira idade, me dizem que tenho umas parecenças com Roberto de Niro.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Constância de viver

Uma das mais curiosas e, talvez gratificante, actividade humana é, na minha opinião, o saber conhecer o ser humano, conhecimento esse adquirido nos cursos universitários, provavelmente nas áreas da Psicologia, Sociologia, Relações Sociais e Humanas. Estas licenciaturas , amadas por uns, odiadas por outros, vieram preencher um vazio existente em muitas organizações que acolhem pessoas de todas as idades, nomeadamente creches, escolas, lares de terceira idade, etc., na interpretação das carências de diversa ordem que os utentes manifestam através de um olhar, de um sorriso alegre ou triste, de postura física. Ao longo da vida os pais conhecem os filhos e, regra geral, compreendem-nos, porque os viram nascer e acompanharam os seus momentos de exaltação e de angústia, de determinação ou de hesitação, de vitórias ou de derrotas. Poucos são os pais que não tenham carregado os filhos pequenos às cavalitas ao longo da areia de uma praia, num campo verdejante para o menino (a) colher a sua laranja, cereja ou maça, ou à procura de pinhões em qualquer monte. E quem o fez recorda com carinho esses momentos, sentindo uma espécie de nostalgia quando vê seus filhos partirem rumo à independência. Será que os filhos conhecerão os pais quando, algumas deficiência física ou mental os impedirem de expressar o que sentem a cada momento? Compreenderão que os pais já não vivem com aquela constância e estão a definhar lentamente porque, tal como uma criança de tenra idade, também eles necessitam que cuidem deles? Sentem-se compreendidos? Só conhece verdadeiramente as pessoas quem a elas se dedica, não só por “profissão e ganha-pão” mas, essencialmente, por vocação, entrega, sentido de cidadania, responsabilidade social. E estes “profissionais sociais” não podem ser atafulhados de burocracia imposta pelos quadros superiores – alguns que se “ajeitam” ao lugar, outros “nomeados”, insensíveis ao sofrimento silencioso alheio, porque a sua cadeira giratória lhes dá uma sensação de divindade. E eu gostava de saber interpretar a repentina mudança de uma genuína alegria de viver para uma enorme tristeza e desgosto estampado no rosto de alguns que, por terem atingido o “fim de vidas útil” são atirados para uma qualquer instituição publica que, de social não tem, aparentemente, nada.