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quinta-feira, 13 de março de 2014

Constância de viver

Uma das mais curiosas e, talvez gratificante, actividade humana é, na minha opinião, o saber conhecer o ser humano, conhecimento esse adquirido nos cursos universitários, provavelmente nas áreas da Psicologia, Sociologia, Relações Sociais e Humanas. Estas licenciaturas , amadas por uns, odiadas por outros, vieram preencher um vazio existente em muitas organizações que acolhem pessoas de todas as idades, nomeadamente creches, escolas, lares de terceira idade, etc., na interpretação das carências de diversa ordem que os utentes manifestam através de um olhar, de um sorriso alegre ou triste, de postura física. Ao longo da vida os pais conhecem os filhos e, regra geral, compreendem-nos, porque os viram nascer e acompanharam os seus momentos de exaltação e de angústia, de determinação ou de hesitação, de vitórias ou de derrotas. Poucos são os pais que não tenham carregado os filhos pequenos às cavalitas ao longo da areia de uma praia, num campo verdejante para o menino (a) colher a sua laranja, cereja ou maça, ou à procura de pinhões em qualquer monte. E quem o fez recorda com carinho esses momentos, sentindo uma espécie de nostalgia quando vê seus filhos partirem rumo à independência. Será que os filhos conhecerão os pais quando, algumas deficiência física ou mental os impedirem de expressar o que sentem a cada momento? Compreenderão que os pais já não vivem com aquela constância e estão a definhar lentamente porque, tal como uma criança de tenra idade, também eles necessitam que cuidem deles? Sentem-se compreendidos? Só conhece verdadeiramente as pessoas quem a elas se dedica, não só por “profissão e ganha-pão” mas, essencialmente, por vocação, entrega, sentido de cidadania, responsabilidade social. E estes “profissionais sociais” não podem ser atafulhados de burocracia imposta pelos quadros superiores – alguns que se “ajeitam” ao lugar, outros “nomeados”, insensíveis ao sofrimento silencioso alheio, porque a sua cadeira giratória lhes dá uma sensação de divindade. E eu gostava de saber interpretar a repentina mudança de uma genuína alegria de viver para uma enorme tristeza e desgosto estampado no rosto de alguns que, por terem atingido o “fim de vidas útil” são atirados para uma qualquer instituição publica que, de social não tem, aparentemente, nada.